Deixem-me contar-vos como tem sido a minha semana.
Na quinta feira dia 24, o vet disse que a B tinha dado dois passos e eu quase que o agrarrei aos beijos, e desatei a chorar mesmo ali (ai a dignidade que se vai embora assim num split second....)A B veio do vet pra casa e comecou a tomar corticoides. As mas noticias e que a B nao tem uma infeccao nos ouvidos, mas muito provavelmente um tumor cerebral - mas isto so podera ser comprovado atraves de ressonancia magnetica, e ainda estamos a espera de mais exames. Mas, como Deus nao fecha uma porta sem abrir uma janela (pronto, aqui esta a minha costela positiva, que tem estado enterrada nos ultimos 3 anos, diga-se de passagem), la dizia eu, entao a bichana tem estado a reagir bem a medicacao e tem conseguido ter uma vida um tanto ou quanto normal - isto e, consegue equilibrar-se, andar, parece bem disposta e nao parece estar em dores. Eu sei que o prognostico nao e bom, mas para quem na semana passada estava a pensar que a gata nao sobrevivia mais um dia, isto ate e bastante bom. Ja agora fica aqui a nota para aqueles que tem gatos - se um dia chegarem a casa e os vossos felinos estiverem de cabeca inclinada, incessantemente as voltas sem parar e sem equilibrio, entao meus amigos, das duas uma: infeccao do ouvido interno (otite) ou tumor cerebral/qualquer outra coisa neurologica. Os sintomas sao mesmo de arrepiar pra qualquer pessoa que tenha animais.
Anyway, la veio a bichana pra casa e la fiquei eu de enfermeira. A bichana teve que estar circunscrita a uma jaulinha durante uns dias porque nao tendo equilibrio, podia-se magoar valentemente. Tive que comprar jaula, dar medicamentos duas vezes ao dia - ok, esta e a parte em que sugiro ao pessoal, que nao tiver capacidades pra fazer isto, arrange um cao, porque a je tem passado horas no chao da cozinha a espera que a majestade mame os antibioticos e tal, porque os gatos, ao contrario dos caes, tem vontade propria. Todos os dias tinha que acordar as 5.30 da manha pra lhe dar os antibioticos, corticoides, limpar os ouvidos, dar medicamento de ouvidos, e limpar a merda toda que ela fazia na jaulinha, porque os gatos sao muito limpos mas a bichana como nao tinha equilibrio, fazia o que tinha a fazer no cestinho, mas depois ao sair do cestinho desiquilibrava-se e la se espalhava aquela merda (literally) por todo o lado. Esfreguei coco de gato de tudo o que era sitio, incluindo da gata herself, que desgracada, nao se conseguia lavar porque nao tinha equilibrio do lado direito do corpo (o que indica uma lesao do lado esquerdo do cerebro). No meio disto tudo so me lembrava do meu pai, MPDU, e de quando teve o AVC, e de como nao se pode desistir das pessoas assim a primeira. E que apesar de se poder eutanasiar a gata (palavra que eu proibi os vets todos de usarem na minha frente), primeiro havia que explorar todos os acminhos possiveis, e que se a gata saisse desta em condicoes, mas diferente do que o que era, por mim eu ficaria muito feliz so por a ter ca. E assim foi. Porque a gente nao desiste dos loved and dear ones so porque estao doentes, so porque nao tem as suas faculdades todas, porque isto na vida, e um bocado como no casamento - for better or for worse - ainda pra mais se e um animal ou uma crianca pela qual a gente e responsavel.
E portanto, meus amigos e minhas amigas, nunca limpei tanta merda na minha vida. Nunca abria tanta boca de gato pra meter medicamento la pra dentro, nunca fiz tanta magia pra misturar antibioticos na comida e fazer a gata comer a comida ( e evitar que a outra gata, a N, que de acordo com tudo o que e tabela, e geriatrica, ja com 15 anos, mas que corre com uma velocidade tal que nem se lhe veem os pes tocar no chao, especialmente se o meu marido a tentar agarrar - dizia eu, evitar que a N. que e uma glutona de todo o tamanho, comesse a comida da B com aquelas drogas todas la dentro). Lembro-me dum dia em particular em que nao so tive que fazer esta ginastica toda, como depois, me apercebi, ao mudar a jaulinha, que a porcaria da B se tinha pegado as paredes e passei horas a desinfectar o meu escritorio enquanto o meu marido me fodia a pachorra sore o que era o jantar e a que horas estava pronto (sem comentarios). E ontem, pra culminar, tivemos uma festa em Cambridge, tudo black tie etc e tal, e tivemos que nos vir embora la pras 11, porque Your Highness tem que tomar o antibiotico.
Entretanto, o senhor meu marido, que de facto me saiu uma perola de todo o tamanho, andou ai uma semana em que so nao chorava porque aquele homem nao produz fluido lacriminal, (aparentemente um problema dos Tulipeses), dizia eu, andou ai uma semana no chao da cozinha, agarrado a gata, com voz de falsete, e a dizer-me pela milionesima vez, "Ela nao esta bem". E tambem a berrar-me a dizer - nao levantes a voz porque a gata tem uma dor de cabeca (oh meu caramelo, a mim nunca ninguem me disse que um tumor cerebral implica dor de cabeca!!!!). E ovbviamente ha que nao equecer as duas ou tres vezes em que saiu da cama as 4 da matina porque a gata estava aos berros (outro sintoma da doenca, mas que ainda por cima ela agora aprendeu que se nao esta ao colo, e berrar, o problema resolve-se logo ali - enfim, gata enferma, mas sempre gata).
E assim estamos, meus amigos. Dois adultos que nao tem filhos, que apreciam o fim de semana sem fazer nada, e a quem a vida resolveu pregar uma partidinha destas...
ps - a B esta agora sentada no colo do dono a ler o jornal, actividade favorita de ambos ao fim de semana.