E se o comment da Cassandra me precipitou a escrita outra vez, a verdade e que vontade nao tem faltado, tem e faltado energia.
E que se ao contrario da Heather eu nao tive um very public breakdown (alias recomendo bastante a leitura do livro dela, nao pela qualidade da escrita, mas sim pela honestidade brutal, coisa que falta a muita gaija que eu conheco) ja dizia eu, se eu nao estive na situacao da Heather, a verdade e que desde o dia 9 de Abril de 2009 que a minha vida parou. E a minha familia desmoronou. E neste processo perdi o "meu pai de sempre" - que pra quem e lento e ainda nao entendeu nas entrelinhas, teve um AVC brutal e nunca recuperou, e esta numa cadeira de rodas e esta tambem com demencia - PRONTO, DISSE - DEMENCIA DEMENCIA DEMENCIA DEMENCIA.
Eu ca nao quero parecer ingrata, porque estou muito grata a Deus ou a seja la quem tenha sido que me tenha permitido ficar com o meu pai, apesar de nao ser o pai de sempre, mas a verdade e que tudo parou, tudo cessou, tudo desmoronou a minha volta. A vida parou de ser vivida, tudo parou de ser sentido. E quando eu digo que parou, e porque parou mesmo. A unica coisa que continuou foi o trabalho, a um ritmo intenso. Houve dias em que passei 12 horas em pe no hospital, seguidas de outras tantas no computador e ao telefone pra outro lado qualquer do mundo. E a volta do meu pai foi-se desmoronando tudo. Quando eu digo tudo, e MESMO TUDO. Acho que a unica coisa que ficou intacta foi a minha vontade galopante de comer Ben and jerrys (alias, o que sera obvio pra qualquer um que olhe bem pro tamanho da minha traseira nos dias que correm).
Neste tempo houve ataques de zona, houve doencas mil, que o corpo e mais esperto e queixa-se. Houve tentativas de ginasio e exercicio que falharam. Houve viagens mil, que ai-credo-deus-nos -livre de eu deixar alguma coisa afectar o trabalho. Ai credo Deus-nos livre de eu deixar alguma coisa afectar a rganisacao da casa nova, ou a hora a que o meu marido janta ou o carago a quatro. Houve viagens aos EUA com dias e dias de 15 horas diarias de trabalho, e em que caia na cama ainda calcada. Houve mil viagens a Portugal, MIL. Dias e dias sem dormir. Dias e dias a chorar no aeroporto nos regressos. O que quer que eu fizesse nunca, nunca era suficiente. Nunca. Um sentimento de impotencia brutal e uma incapacidade muito grande de parar, porque o que quer que eu fizesse nao me parecia suficiente, se calhar porque os que me rodeiam nunca souberam muito bem dize-lo, porque os que me rodeiam, apesar de serem de ferro, nao dominam a arte de fazer o gaijo do lado sentir-se bem, sentir-se achieved. Isto tudo somado a incapacidade de perceber porque e que uns certos dois desgracados tinham que fazer o que fizeram e fazer com que o MPDU ficasse no estado em que ficou. Porque como disse a Altinha Pintona, as 5 da manha do dia 10 de Abril de 2009, no aeroporto de Gatwick, "tanto que o tentaram matar, que quase conseguiram".
No meio disto tudo enterrei a minha gata, e no mes passado a cadela tambem - porque apesar de nao ser minha, era dos meus, e se eu tenho pouca energia entao os que me rodeiam tem ainda menos. E a caminho do veterinario la fui eu a chorar, a pensar que carrasco que era. E no veterinario la estive eu a chorar, mas o que me vale e que o veterinario ja e da familia, e aos quase 34 anos eu ja perdi a vergonha quase toda. E cada vez que regressava, naquele maldito aeroporto, muito chorei eu. E muito pouco dormi no regresso. E muito me atirei ao trabalho pra esquecer tudo isto, muito esfreguei a casa, muita cortina pendurei e muito cozinhei. Porque parar e pensar, e eu nao posso pensar em tudo isto porque dou em doida. E tao pouco dormi, e tao pouco dormi. Ai se nao fosse a quimica pra eu conseguir dormir, nao sei o que seria de mim!
O mais admiravel e so ter havido duas pessoas no mundo que o tivessem visto voluntariamente, e nenhuma delas e de familia (Caralho, ha que ser engano, certamente seremos familia mas ainda nao o sabemos - a Baldrocas Larocas e a Mae Frenetica, Fren pros amigos). Foram elas as unicas que me conseguiram dizer que nao, que o que eu estava a fazer nao era a minha obrigacao, e mais ainda, era muito pra la do meu dever ou de qualquer sentimento de obrigacao moral. Isto veio de duas amigas, e nao do meu marido.
Do meu marido - ATENCAO, marido este que eu muito estimo e ao qual me apetece partir a cara pelo menos 500 vezes por dia, mas sem o qual eu nao conseguia viver porque gaijo como este nao ha, todos os que prai andam sao piores que ele, nao ha ca marido como o meu - mas dizia eu, do meu marido o que eu ouvi e que ele vinha em quarto lugar, depois dos pais, depois do trabalho, depois das gatas. Pois o desgracado nao consegue ver que os unicos seres que me fazem sentir bem e feliz sao aquelas gatas???? Anyway, marido este que me diz isto e me deixa em pedacos. E, nao fosse eu quem sou, la passo eu mais uma noite a solucar, e soluco tanto que perco a voz, e passo dois dias afonica, e levo uma tanga do carago no trabalho e os clientes me mandam pra casa porque reunioes com voz tipo cochicho nao dao la jeito a ninguem. Sim e no meio desta merda tda, o meu marido vai fazer 40 anos e ta com uma puta duma crise de meia idade, e como dizia a fren, o-i-o-ai quem se fode e o mexilhao. Porque ele pode andar com crise e pode trabalhar muitas horas, mas isso tambem o faco eu, e quando chego a casa nao tenho ninguem que me ponha a puta da comida na mesa, mas ele tem! Sim! Ele tem! Porque a mulher dele, apesar de estar a beira dum ataque de nervos, apesar de nao ser a mulher tipica, porque nao e gaija de ficar em casa a tratar de filhos, porque nao e gaija que ache que as criancinhas sao bilu-blu, muito pelo contrario, sim essa gaija que e mulher dele assegura que tudo funciona a volta dele, que ha comida no frigorifico, que a casa esta limpa, e que quando vai pra fora a maior parte dos jantares da excelencia estao cozinhados. Enfim.
E pronto, quase aos 34, chego a conclusao que e muito dificil ser tudo. Que ninguem tem tudo, a nao ser que seja a custa de outra pessoa. Que se eu dou tudo a todos a minha volta, nao fica nada pra mim.
E hoje, as 6 da manha, quando me ARRASTEI da cama, ARRASTEI no verdadeiro sentido de ARRASTAR, e me arranjei pra ir trabalhar, e quando atirei o fraco novinho em flha da puta da base da Clinique para o chao, partindo-o e mil bocados, cagando a puta da parede azul do quarto de banho, cagando as calcas brancas de linho e a camisa amarela mostarda de seda que tinham sido acabadas de limpar a seco, nesso momento decisivo da minha vida, em que eu estava de joelhos no chao da puta da retrete a esfregar a maldita parede azul e a pensar simultaneamente - raismepartam se volto a ter quarto de banho com paredes pintadas, alguem que me castigue no proximo quarto de banho sem azulejos, palavra de honra - pois foi nesse momento decisivo da minha vida que pensei, caralho pr'esta merda toda, hoje nao vou pro escritorio porque eu nao posso mais. E assim, depois de ter espatifado uma porrada de dinheiro antes das 7 da matina em base e lavandaria, decidi que hoje era eu primeiro, e que eu nao tinha que me meter naquele comboio pra ir pro trabalho, e fiquei a trabalhar de casa. E foi tambem nesse outro momento decisivo da minha vida, ao fazer o jantar pro meu marido, que quando ele disse que a parede nao estava la muito azul, eu lhe levantei a panela do forno cheia de tomate frito e lhe perguntei se queria que eu a pintasse outra vez, ao que ele calou e nao bufou.
E por isso, voltei ao blogue. Porque dias como hoje tive eu muitos no ultimo ano e meio. Dias em que espatifei o carro, em que parti sapatos, em que andem com roupa do avesso no escritorio o dia todo sem dar por ela, em que fechei a casa com as chaves la dentro e com o meu marido noutro continente.
Voltei porque quero recuperar a capacidade de me rir com estes pequenos desastres que me acontencem.
Voltei porque quero recuperar a capacidade de me rir.
13 comentários:
Fiquei com o peito apertado, agora.
Quem inventou as mulheres, fez um trabalho filho de uma senhora de má vida.
És uma máquina, CK. Uma máquina daquelas boas, boas, boas, que não há Porsche que te chegue aos calcanhares.
Bem vinda de volta, ainda que por desespero, por mágoa, eu sei lá bem o que sentes, não tenho a veleidade sequer de tentar imaginar.
Volta sempre.
E um xi coração apertado, apesar de não nos conhecermos. Os abraços, as mais das vezes, valem mais do que todas as palavras lamechas do mundo.
Obrigada linda. xxxx
F-O-D-A-S-E (e eu nem falo mal, so as vezes)
Não é a vida, nem os homens, nem o trabalho q nos matam. Sao os sentimentos de culpa.
Nos crescemos a ouvir q temos de ser independentes etc e tal, mas nao deixar os outros ficar mal.
E so nos deixamos ficar mal a nos proprios.
CK, anda passar uns dias ca a casa q eu ponho-te a comida na mesa. Estou a falar a serio.
Puta que pariu!!!! Que história mulher!!
Olha que amigas destas não há por aí aos pontapés!! Eu se fosse a ti aproveitava! :p
E é mesmo isso Fren, pena que tenhamos que chegar ao fundo do poço para nos lembramos de nós...
A partir de agora vai melhorar! O difícil é começar!!
Espero sinceramente que encontres conforto na blogosfera tal como eu encontrei. Tu mesma sem saberes fizeste-me muitas vezes rir com alguns dos teus posts, com as tuas expressões tão familiares...
Nem toda a gente goes public, o que não significa que sofram menos. Ninguém tem tudo, e tu não estás sozinha.
Desconhecia esse livro. Fiquei com vontade de o ler de uma ponta à outra.
Oh fren eu sei, eu sei more. bigados!
Ana, Marshmallow, muito obrigada. Como dizia o herman, a via e como os interruptores. Como diz a minha tia, isto a vida tem fezes...
Upwards and onwards como este people daqui diz!
Força CK,
há muita gente que te lê e que está aqui a torcer por ti!
Gee, so much love. Obrigada.
Bem vinda de volta! Bem ou mal, com ou sem car(v)alhadas gosto sempre de te ler e de saber como estas!
Ha-de melhorar! Beijos
Puxa!!!Cuida-te garota. Tinha saudades de te ler, vinha cá todos os dias...Continua nessas tuas lutas, mas respira, pensa, fecha os olhos de vez em quando e sente-te apenas, não te faças perguntas, tenta sentir-te e depois decides se vale a pena, se achares que sim força, prá frente é o caminho. Vai andando por aqui. Um abraço enorme.
(in)felizmente temos mesmo muita coisa em comum. Mas eu ainda nao estou pronta para contar. Continuo a solucar nos aeroportos e a escrever palermices sobre o tempo no blog.
Beijinhos e um abraco, de quem passa, ja passou, e esta a passar.
Welcome back e... nada, que nestes desabafos nao ha' muito que se poss dizer...
Beijos, muitos beijos
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