Ha um ano atras levantei-me mais tarde porque tinha um offsite e nao tinha que ir pro escritorio
Ha um ano atras o Elvis chegou dos EUA as 7 e pico da manha
Ha um ano atras o Espinho-marido-numero-1 ligou as 8.30 para saber se eu estava bem.
E ai tudo comecou.
Comecou um dia de ligar a familia a dizer que nao sei o que se passa, mas antes que chegassem noticias a Portugal, queria que soubessem que estava viva e nao tinha ido trabalhar.
Comecou o dia de fazer as listas e ir ligando, um a um, uma a uma a saber se estavam bem, se os amigos deles e a familia estavam bem. Alguns dos telefonemas so completados ja 24 horas depois.
Comecou o dia, de mais uma vez, depois do 9/11 e depois de Madrid, nao saber o que nos espera. De nao saber se se vai poder ir trabalhar ou nao.
No 9/11 fui das poucas que teve que ficar no escritorio depois da evacuacao geral. Tinhamos posicoes abertas, alguem tinha que "tomar conta"...O caminho pra casa foi feito ao telefone a contar quem estava vivo em NY. Um por um, a ver se estavam todos bem. As maos tremiam, tudo tremia. O panico era geral.
Depois vieram os panicos de antrax, as evacuacoes da area financeira por completo, milhares de pessoas a pe pra casa. Os blackouts....
Em Madrid outra vez a mesma coisa. Contar os amigos, um a um, ver se estavam vivos.
Mas em Londres foi diferente. Foi diferente porque eu apanho aquele metro todos os dias, e naquele dia nao apanhei. Foi diferente porque eu deveria ter apanhado um outro metro, mas como estava a espera do Elvis tambem nao o apanhei. Foi diferente ver aquelas caras todas, 52, ler as suas historias, esperar as confirmacoes do obvio.
Hoje senti o mesmo e nao foi preciso lerem-me as historias de cada um. Ainda me estavam vivas e associadas a cada imagem de cada um dos 52. E dos ouros. Os que perderam pernas, bracos, visao, etc. E os que nao perderam nada fisicamente, mas que perderam a mente. Os que ficaram e se sentem culpados por terem sobrevivido.
E se um sujeito a quem lhe tiram o pais, a casa , a mulher, um sujeito que nao tem nada, resolve ser terrorista, eu discordo, mas ainda entendo. Entendo os palestinos, e isto nao quer dizer que nao condene, pq todo o terrorismo e condenavel.
Mas que um idiota deixe a mulher gravida e os filhos, um idiota que tem educacao superior e tudo, e se decida matar levando uma serie de gente com ele, gente essa que e do seu pais, da sua nacionalidade, isso eu nao entendo, nao perdoo, e e um insulto a este pais que tao bem recebe os emigrantes de todas as racas religioes etc.
Espero que o que aconteceu no ano passado nao aconteca nunca mais. Nem aqui, nem em lado nenhum.
ps - desculpem o tom melancolico, mas o assunto e serio demais. Amanha retomo o tom normal...
ps2 - um ano depois, obrigada a todos voces, os que comentam e os outros, que ligaram para saber como eu estava.
sexta-feira, julho 07, 2006
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14 comentários:
olá, não esperava encontrar-te tão séria mas compreendo bem q assim estejas! Qd apareces lá em casa? lá te espero! (tenho, mais uma vez as leituras atrasadas...) bjs
Calamitosa!!!!Ola, tas de volta!!! Sim este assunto e de facto muito serio. Mas pelos vistos ninguem comentou, por isso de certeza que perdi audiencias :-(
Aparecer em tua casa? Ah tou convidada? e ja, diz quando!
É de facto um assunto sério e uma ameaça para todos... E eu não tenho culpa nenhuma que das crises que os políticos inventam...
nhanha
Não perdeste audiencias, apenas ficamos sem palavras perante 1 assunto tão serio...A mim dá me 1 frio na barriga!!Ainda bem que estas cá para contar a tua parte da historia...
C- mim - pois es tu e eu. e eu mais a mais paguei impostos q deviam ter sido investidos no metro e foram usados pra uma guerra que levou uns idiotas a explodirem o metro. Valha a ironia
Bailarina - Welcome! Uma leitora nova. Volta sempre. SIm da um frio na barriga muito grande....
Sei do que escreves. É sério e dói. Um beijinho...
Ola, pois eu tambem apanhava outro daqueles metros, mas estava em Amesterdao nessa manha. regressei a uma cidade aparentemente normal na tarde desse mesmo dia. Estava em Madrid no 11-M e acordei com as explosoes a 300m de minha casa... Estava em frente da televisao a ver em directo o que parecia um filme da melhor e mais inimaginavel ficcao no 11-S.
Mas de tudo, retenho o silencio de Madrid e a bravura de Londres. As inimaginaveis filas para dar sangue em Madrid e o "business as usual" de Londres. Duas maneiras diferentes de lidar com a mesma situacao, uma latina, exterior e sofrida e outra anglo-saxonica, aparentemente indiferente, mas nao menos sofrida.
Mas das 3 guardo uma memoria. Como tao terrificos actos, fazem aparecer o lado mais belo do ser humano. Um acto de malvadez, traduzido em milhares de actos de ajuda, entrega, partilha e amor. Pode ser lamechas, mas e a forma de me fazer ultrapassar tudo o que vi (ao vivo e a cores em Madrid) e continuar a acreditar no Homem com letra grande.
Como diz um proverbiio chines: Uma arvore cai e provoca imenso ruido enquanto milhares nascem em silencio.
Também me lembro bem deste dia há 1 ano atrás... Estava já grávida q.b. e estive horas a tentar encontrar a minha irmã cujo namorado também apanha aquele metro... E cuja casa fica ali ao lado...
Acho que o Alien ia-me saindo pela boca nesse dia...
Acho q podias publicar o email q enviaste nesse dia. Estava genial e eu ainda o guardo...
Lembrei-me mto de ti, mas não te quis telefonar propositadamente...
Um beijo
Concordo em absoluto com a mãe frenética... O mail que mandaste nesse dia foi lindo e arrepiante ao mesmo tempo...
125 - muito serio. arrepiante.
Michael - tens razao. nesse dia tb admirei muito os bifes.
Mae do alien - pois e, a tua irma ta ca! imagino o q passaste....
Frenetica - ainda tens o tal mail? se tiveres por favor envia-mo. E ja agora, pequena correcao, tu ligaste-me na sexta dia 8!
NSC - lemrbo-me do enviar mas ja nao me lembro das palavras exactas...
Olá CK... encontrei o teu blog ao acaso e estava divertida com as alcunhas que chamas ao pessoal amigo quando me deparo com este post.
Eu vivi 6 anos nos estados unidos, estando lá no 11 de setembro 2001. Acordei com o despertador de rádio em tom fúnebre a relatar o primeiro ataque e uma mãe histérica ao telefone.
Tinha uma aula nessa noite que não foi cancelada. Lembro-me do choro do professor em frente a 200 alunos na plateia e milhares de outros em directo na TV Learning Channel... lembro bem...
Lembro o choro de um povo que, no fundo no fundo, por muito arrogante que pareça ao exterior, é de coração quente e alma boa.
Concerteza que os portugueses não gostam da etiqueta de "empresários corruptos", "jogadores de futebol que fingem rasteiras e lesionam o adversário", "cospem para o chão e peidam-se ruidosamente em público" ou mesmo das típicas alusões à nossa falta de eficiência laboral e civismo.
Não vamos também nós discriminar um povo descendente de uma europa decadente pela sua (má) imagem política. Se os cortares também lhes dói e sangram.
Aenima - bem vinda e obrigada pelo comentario. Sabes que isto de opinioes politicas e complicado. Acho q nao lhes casquei de modo nenhum, muito pelo contrario. Ate porque tenho muitos amigos que foram afectados pelo 9/11. Acho, muito claramente, como muitos americanos com quem lido diariamente tb acham, que o Bush e dos piores acontecimentos dos EUA. Mas foi eleito e ha q respeitar. Mas tou confusa sabes, pq eu nem tinha criticado, alias sempre fui muito solidaria nestas situacoes. Did I misunderstand you by any chance?
anyway, volta sempre que es bem vinda. Aqui gosta-se de gente com opiniao!
Olá Ck,
Não os criticaste... não era "raspanete" nem nada disso! É que normalmente quando falo dos US todo o mundo é contra absolutamente tudo, por causa do Bush, da guerra, do capitalismo agressivo e tanta coisa mais... Eu própria fui a primeira a voltar para Portugal, porque o modo de vida deles entra muito em contraste com o meu. Mas a verdade é que os US não são um país... são uma amálaga de 50 países com culturas e povos muito diferentes, unidos monetária e linguisticamente. Só. Quantas vezes ouço coisas do estilo "bem feito para eles terem morrido 3 mil no world trade centre porque já mataram muito mais que esses pelo mundo fora". Está certo, mas não foi com terrorismo... a mais vil e horrífica das formas de dissiminar uma ideia. Depois também é frequente me insultarem por ter ido para lá. Quer dizer... nunca ouvi ninguém maldizer um colega porque emigrou para a China, que mata as suas próprias crianças, anexa terras como se fossem suas de direito e nem dão opção de discussão em situações de diplomacia internacional. Mas se alguém vai aos US... é cruxificado. Eu conheço também várias pessoas chinesas, de todos os cantos da china e são provavelmente dos amigos mais carinhosos que tenho. Não julgo o povo pela imagem de política externa que o seu país tem.
A minha ideia ao escrever o comentário era apenas deixar uma lembrança do 9/11, que traumatizou um povo injustamente também... e lembrar que nem sempre a justiça é divina... nem sempre o devedor é o pagador.
Beijoquitas mil e obrigado pela visitinha ao meu "estaminé".
Já agora... eu percebo bem essa trenguice de se escrever sem acentos. É uma neura. Pior, para mim, foi depois de quase 10 anos com computadores ingleses, voltar a habituar-me a escrever português correcto com um teclado diferente!
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